Zohar
HaKadosh
Capa da primeira impressão do Zohar (Mântua,
Itália, 1558).
Por várias e várias gerações o “Livro do
Esplendor” ficou ocultado. Até que, os caminhos da providência Divina, o fez
chegar as mãos de Rabi Itzchack Lúria, o santo Ari, que se empenhou em difundir
seus grandes ensinamentos ao grande público. Os moradores de Tsfat em sua
grande maioria começaram a estudar com o Ari e seus discípulos acerca dos
mistérios ocultos contidos no Zohar e à partir daí esta cidade santa, capital
da Galiléia, recebeu o apelido de “reduto dos cabalistas” e atualmente a cidade
é conhecida como “O Centro Mundial da Cabalá”. No período em que Arizal viveu
em Tsfat, também viviam ali grandes “gigantes espirituais”, grandes eruditos e
difusores da Torá, Mestres da Torá Oculta (Cabalá), como por exemplo, Rabi
Moshê Cordovero, Rabi Shlomo Elcabets, Rabi Yossef Caro, entre outros. Todos
estes homens admiráveis e extremamente elevados, humildemente reconheceram o
jovem Ytzchack Lúria como grande Mestre e autoridade máxima no que dizia
respeito ao conhecimento da Torá Oculta (Cabalá).
Introdução ao Zohar
O Zohar é uma obra muito mais vasta do que se
pode imaginar e composta por muitos volumes. Fisicamente, o Zohar trata-se de
algo que vai muito além de um simples conjunto de livros, pois ele apresenta
comentários sobre os Escritos Sagrados à partir de uma ótica onde são abordadas
de forma muito profunda questões sobre a Criação, bem e mal, céu e inferno,
imortalidade, Sefirot, Mashiach e lendas sobre grandes mestres espirituais o
que torna praticamente impossível uma abordagem litúrgica simples do Zohar,
pois seus textos tratam-se de princípios espirituais que de fato não podem ser
compreendidos como se fossem algo comum justamente por estarmos diante de uma
“partitura Divina” como dizem os sábios cabalistas. Seus mistérios e segredos
só podem ser acessados através dos olhos da alma e estudar o Zohar é
completamente diferente de estudar outras literaturas, pois ele desperta em
quem o estuda as energias contidas nos assuntos abordados. O Zohar é
considerado a espinha dorsal da Cabalá e se trata da principal
ferramenta de decodificação dos textos sagrados, logo o que o torna único é que
cada letra, cada palavra, cada frase e cada ensinamento contido no Zohar
corporificam a Luz Criadora. O fato do Zohar chegar até nós em forma de livro
faz parte da estratégia Divina que deseja torná-lo acessível a esta geração
destinada a difundí-lo. Conforme afirmou o Rav Yehudah Ashlag de abençoada
memória, ele disse:
“Nossa geração está no verdadeiro limiar
da redenção se apenas soubermos como disseminar a sabedoria do oculto para as
massas”.
O Zohar revela
os caminhos da espiritualidade e ascende à grandes alturas, ensinando
princípios espirituais dignos de admiração e orgulho, até mesmo às almas mais
elevadas de nosso tempo. Muitos foram impedidos de desfrutar das grandes
revelações do Zohar por o considerarem exagerado ou destituído de sentido. A
compreensão do Zohar vai além dos limites da intelectualidade, logo, as
revelações nele contidas, eleva o estudante para dentro de um nível de
consciência maior.
O Zohar é
considerado pelos tradicionalistas uma grande revelação de D’us ao Rabi Shimon
Bar Iochai (indiscutivelmente seu Autor). Escrito parcialmente em aramaico e
parcialmente em hebraico é concebido como um comentário místico da Torá, em
especial do livro de Bereshit. Trata-se de uma "chave" que abre os
portais do conhecimento e da sabedoria Divina.
O Sêfer ha
Zohar (ou Livro do Esplendor) também é conhecido como “A Bíblia da Cabalá” - a
parte mística e secreta da Torá Oral. Há uma crença de que o Zohar foi trazido
à terra por anjos e o Sêfer Raziel HaMalach – O Livro do anjo Raziel confirma
esta tese ao afirmar que, “72 Sinais dominados pelo anjo Michael foram
transmitidos a Adão”. “O livro ensina ainda que Adão sentiu temor e respeito
pelos ensinamentos dos mistérios ocultos e dedicou-se a aprendê-los imergindo
num nível maior de consciência, purificação e santificação tornando-se
extremamente sábio por conta do conhecimento que recebeu...”. Nossos patriarcas
Avrahan, Itzchack e Yaakov de certa forma também tiveram acesso aos
conhecimentos sagrados contidos no Zohar. Moisés quando recebeu a Torá no Sinai
a recebeu na íntegra com todas as suas ferramentas e chaves de decodificações
necessárias para uma profunda interpretação dos textos sagrados e previu que
falsas interpretações seriam aplicadas a esses ensinamentos com o decorrer dos
tempos e então decidiu que tais ensinamentos só poderiam ser transmitidos de
forma oral de pai pra filho, de geração em geração e se encarregou de
ensiná-los a seu sucessor Josué, que por sua vez se encarregou de ensiná-los a
homens fiéis. Os chamados “nistarim” (“os ocultos”), os primeiros cabalistas,
preservaram zelosamente esses ensinamentos, transmitindo-os oralmente às
gerações seguintes.
O
pai do Misticismo Judaico

Rabi Shimon Bar Iochai – I Séc. a.e.c
Rabi
Shimon Bar Iochai, também conhecido como Rashbi (sigla tirada das iniciais de
seu nome), viveu durante o segundo século da Era Comum e foi um dos líderes da
revolta de Bar-Kochba contra os dominadores romanos. Ao saber da forma cruel
como seu mestre Rabi Akiva havia sido executado sua resistência a Edom
tornou-se ainda mais obstinada. Certa vez os líderes judeus da época o enviaram
a Roma com a missão de tentar convencer o Imperador a extinguir a proibição
imposta aos judeus de não praticarem e ensinarem a Torá (até então sinônimo de
Cabalá). Ao descrever este episódio o Talmud relata um dos inúmeros milagres
que marcaram a vida de Rashbi: A filha do Imperador possuída por um espírito
impuro gritava o tempo todo dizendo que somente um homem poderia exorcizá-la e
que este se chamava Shimon filho de Iochai e para a surpresa do Imperador ele
próprio havia sido enviado pelas lideranças judaicas para lhe pedir que
anulasse o decreto que impedia os judeus de praticarem e estudarem a Torá.
Rashbi conseguiu exorcizar a jovem e a proibição romana foi revogada.
Certa vez Rashbi ouviu um colega judeu
enaltecer as conquistas e feitos romanos e grandemente indignado respondeu: “Tudo
que os romanos fizeram de bom, fizeram para seus próprios benefícios e assim
fizeram motivados por propósitos imorais”. A discussão chegou ao
conhecimento das autoridades romanas, que decretaram imediatamente que Rashbi
fosse morto.
A
caverna em Peqi’in
Rashbi e seu filho, Rabi Elazar, fugiram e
se esconderam em uma caverna e nela escondidos pai e filho permaneceram durante
treze anos de suas vidas estudando, noite e dia, a Torá. Sustentaram-se, dentro
da caverna, do fruto de uma alfarrobeira e da água de uma fonte, surgida do
nada. Durante os anos em que viveram na caverna, pai e filho - tendo o estudo
da Torá como única ocupação - foram visitados pelas almas de Moshê Rabênu e do
profeta Eliahu, que lhes transmitiram os segredos místicos mais profundos do
universo. E exatamente essa riqueza de conhecimentos, adquiridos na caverna,
foi transcrita como sendo o Zohar - a obra na qual se fundamenta a Cabalá.
Texto: Pedro Leão Yossef
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